domingo, 24 de fevereiro de 2008

Ninfa?




Entra, qual sereia, no mar de água salgada, adocicada, não é fria, nem quente, está à temperatura ambiente. Passeia por esse mundo que também é seu, observa a imensa riqueza das criaturas a aparecer. Os peixes rodeiam seu invólucro, os golfinhos começam a convidar, para uma viagem profunda, no seu dorso navegar. Observa os corais, as anémonas, os arrojados seres nadadores, que a olham de soslaio “mas quem é este ser anormal? Será sereia, uma fada, uma nova espécie ou uma nossa afim? Humano não será certamente, eles não nos tratam assim!” E una com a energia que a embriaga, com os seres de corpos filiformes, ou nem tanto assim, fica pelo contentamento de se sentir tão igual. E retoma a outra forma de ser, a outra forma de sonhar, por vezes pesadelo. A separatividade humana é tão triste, é a sua vida no momento! Tal como no nascimento e na morte somos sempre, só, actores solitários.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Fonte imortal




Prado de erva verde, reluzente… como os teus olhos que lá ao longe me olham sem os poder ver, fresca pelo orvalho da manhã que prolongou as suas carícias. Ao fundo um bosque denso, ou nem tanto, mas que importa, não é para lá que ela, serenamente, se dirije, apesar de sentir que a observam atentamente e analisam todos os seus passos e, quem sabe sentimentos! Ouve o regato, licor dos Deuses, da Vida, que pulsa em cada um dos seres, errantes viajantes com rumo incerto!? Ou será que preferem a ausência de visão para observar o rumo escolhido por si mesmos? Pois é! Enfim, cegueira pretendida para ofuscar o óbvio, o que está bem na frente dos olhos e…
O magnífico campo está bem na sua frente, apetece-lhe sentir a frescura e macieza da relva… deita-se, após um pedido de permissão àqueles seres excelsos, inspira profundamente, atenta a tudo ao seu redor. Sente o cheiro da frescura da terra húmida pelo relento que o sol alto não evaporou e que faz questão de a amar, a cada segundo, antes de partir para uma viagem de retorno. O suave perfume dos malmequeres amarelos que, aqui e ali, deixam seu rasto, marcando afincadamente sua presença. Sente o toque das folhas paralelinérvias que docemente acariciam seu pálido rosto, rosado pelo Sol que acalenta sua face, seu corpo inerte, que deambula por todo este espaço acolhendo em cada uma das suas células os mais ínfimos detalhes. Ouve o chilrear dos pássaros, o zumbido dos insectos, o estalar dos galhos que baloiçam pela envolvencia do sopro da brisa. Ao longe, ouve-se a água a percorrer o seu trajecto rumo ao seu fado. Fado?! Qual o seu vaticínio? Singela criatura, tão feliz, com tão pouco! Felicidade conseguida nas múltiplas viagens pelo seu mundo, onde ninguém a vê e todos a compreendem, onde os dois se tornam num, onde a Unicidade é alcançada e… os segredos desvendados, os mais ansiados, os que preferia nem saber! Sente-se a subir, mas! Para onde? Lá, não há mentira, apenas verdades, duras, por vezes. Lá, os sentimentos continuam mesclados, não se discernindo a cor final da amálgama de cores primárias escolhidas para pintar a tela mais bela que poderia existir! Não se preocupa, se não os entende. Há-de entender! Os que vêem da alma são os que a vão orientar e indicar o seu verdadeiro fado, tal como o destino bem definido do regato que ouve lá ao longe. O vento sopra cada vez mais forte, um ambiente mágico, tal como a chuva de raios de um Sol tão luminosos que cega seus olhos cerrados. Sente, não entende, o que escurece é a cegueira do que não se quer ver. Corre, sem tempo para sentir o cansaço e cai, novamente, para mais uma vez se unir á Terra Mãe e se elevar até à Unicidade do Universo. Que bom que é!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

...




...QUE NUNCA CAIAM AS PONTES ENTRE NÓS...
...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Flor amputada





Jovens, apaixonados, sua senda projectavam passo a passo. Tão belo seu sentir, tão bonitos seus sonhos para um dia, de muitos dias que hão-de vir. A primavera avizinha-se e com ela a explosão da madrugada em flor, após a dormência das sementes, a reparação das reservas, o abrigar alimento para o emergir de novas vidas, novas experiências materializadas, novas sendas a serem luxuriantemente erigidas, contempladas e abençoadas. A mãe natureza, com sua magnificência, tudo harmoniza. Os filhos derradeiros acolhe como os primeiros. Os amantes prolongam paradas nupciais, para além do tempo que não é mais que uma ilusão da passagem do dia, após noite, após dia. E, neste tempo, que fantasiam não esgotar, amam-se como se fosse a última vez. Da magia resulta a mágica fórmula alquímica … das criaturas um ser se gerou. No ventre, de muito amado, logo foi dilacerado e os criadores separados. Os céus encheram-se de lágrimas, de trovoada assaz assustadora. Os deuses amaldiçoaram a separação dos amantes, o termo de uma alma. Não viu o Sol raiar, não viu o ciclo lunar. Sentiu os prantos da fonte. A dor desesperada do gerador. A angústia da separação brutal dos jovens apaixonados, desejando a alma num débil corpo acarinhar. Uma flor que não floriu, numa Primavera que tudo tinha para muito fazer sorrir. A excisão definitiva de três almas. suas vidas retomaram por trilhos de uma Primavera tímida e bela. As flores voltam a florir, pós Invernos penosos, de tempestades assombrosas. Veredas dispares, com sua beleza particular. Nunca mais se viram, nunca mais se ouviram. As estações ciclicamente continuam. Os seus trilhos passeados, ladeados por novas flores, prontas a florir…