sábado, 1 de novembro de 2008

Dias vadios

In Estação de S. Bento - Porto
(Foto de Serenidade)


Olho para um lado e para o outro, à direita e à esquerda, posso até rodopiar, mas o observado é o mesmo, a revolta no olhar. Rodopio na dança dos dias, que correm e passam impondo a alegria. Tudo à minha volta é belo! Tudo à minha volta é o certo! Tudo é perfeito! Meus olhos vêem-no, meu coração sente-o. Só minh’alma reclama, pela atenção depreciada que me dou, na correria dos dias, no fugir dos sentimentos vadios! Dói a dor que não vejo. Revolto-me com o que não consigo entender. E na procura de expelir o que não conheço, encontro o desentendimento na voz que não me mente. Divago entre a luminosidade, na obscuridade procuro a caridade, de um berço que me ampare, de um colo que me agasalhe. Hoje vi meu corpo agir feito autómato, minh’alma ficou atónita, sem força para agir e contrariar o que não é de si. Olho à minha volta e não vejo o que queria ver. Observo os robots que nos tornamos, obedecendo a ordens, não fazendo o que mais nos compete: ser feliz, amar e para sempre divagar, entre pedras roladas felizes e enamoradas, pelo amor que sentem por si e por quem vai até si. Rodopio na dança vadia dos dias, passando por entre uma serena briga. Luto entre o autómato que sou e a alma que por instantes se aprisionou.