segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Volúpia da corrente serena


(Foto de Serenidade & Retalhoz)

Resignada às circunstâncias da vida, deixo-me fluir nas vagas que me arremessam para lá do meu querer. Fluo entre as marés calmas e as tempestades intempestivas que me arremessam para longe. Permaneço no desconhecido, reconheço o que sempre fui e que nunca vislumbrei ou, talvez, nunca permiti reconhecê-lo. As intempéries vêem e vão. Ora uma tempestade embala o canastro preenchido. Ora a serenidade prevalece como um rio que flui sem rochedos.
Os vendavais são recorrentes. Será que as estioladas flores as sentem? Será que o corpo ornado de pura doçura permite-se exteriorizar essa tormenta?
Analiso a volúpia da corrente serena. Examino os obstáculos que se dissipam na postura resignada, sem resignação. Disseco a flor que existe em mim, descubro que, além de espinhos, existe a maravilha da permanência calma no milagre desta existência, no agora.
Planeio desfrutar de cada milésimo de segundo. Viver a serenidade em cada momento seguro, ou não! Viver sem medo da tempestade, sem medo da serenidade.
Viver sem querer que a tempestade passe. Esperar a sua passagem. Permanecer na preguiça da luta. Pós tempos de quietude, inquieta, colher os frutos. Poucos ou muitos permitirão que semeie a robustez do riso, possuir uma colheita vigorosa de proveitos de longevidade duradoira.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Poderá o amor dissecar uma flor?


(Foto de Serenidade)


Vermelhas, de paixão; amarelas, sem inacção; brancas, na sua pureza; rosas de singeleza…. Mil e uma cores possuem. Mil e uma maneiras há de as observar. Muitas mais existirão para as admirar.
Como poderia meu coração colhê-la, se ela é a vida que há em mim?!
Como poderia minha mão ceder, a fragilidade humana do querer ter egoisticamente, exclusive para usar o domínio, a soberania, momentânea, de usufruir da sua singela perfeição em minha mão?!
Como poderiam meus olhos felicitar-se no sucumbir da sua formosura. Fitar a agonia diária, os instantes de martírio, o perecer de suas células ávidas do alimento enviado pela Mãe Terra, incapacitado de alimentar sua filha, usurpada!
Poderia eu, alimentar o lenho, alimentado pelo mesmo alimento que me alimenta?
Como poderia eu, ter a ousadia de querer possuir um Ser belo e perfeito, um Ser que se conhece na perfeição e contempla o Todo como sendo ele próprio, nada sentindo como distinto ao seu próprio Ser?
Poderei ter a ousadia de a descrever, se… em relação à minha pessoa existe uma incapacidade constante de me olhar ao espelho, olhar-me nos olhos, descrever-me tal e qual sou, tal e qual sei que sou!
Poderia eu ter a audácia de a perpetuar no pergaminho que adorna as paredes do meu quarto, se o retrato que observo, como sendo a minha pessoa, nada me diz acerca do que sinto, agora, que sou?!
Elejo a via da contemplação. Caminhar, serenamente, entre o vigor de seus caules esguios. Sentir a beleza imanada por cada um destes seres afins. Ouvir as suas suaves vozes clamarem a alegria de viver. Proferir-lhes o Amor que me transmitem, a harmonia que remetem sem selecção, a paz que fazem sentir no Homem, no seu coração.
Opto por ver-te em mim. Ver o teu ser com os olhos da minha alma, que nunca será fiel à tua real formosura, mas que me permite sempre ter-te em mim, nunca me separar de ti, sermos Unos na unidade que é a vida e seu fluxo constante de energia.