quinta-feira, 24 de maio de 2012

Primavera


(Foto de Serenidade)

E, rapidamente, há uma dor que surge sem se querer, sem razão, ou com a sua própria razão! O rio que fluía alegremente, num dia quente de uma primavera conflituosa. Tão estranha quanto quem escreve que ela é conflituosa, ou aparentemente o é! Ou será que a primavera se resume apenas a um espaço intercalado entre o equinócio de Março e o solstício de Junho. Intervalo de tempo onde a vida se sente aparentemente amena e tudo começa a brotar. Brotam flores mas também florescem dores, umas escondidas outras ocultas pelo pesado fardo do inverno da vida.  Outras há, que continuam adormecidas ou até jazem falecidas pelo atroz frio sentido.
Ela floresceu, alimentada pelo calor de um atípico dia de primavera. Soltou-se na brisa da noite, coberta pelo manto de um luar inexistente. Derrubou a armadura que há muito encetou o seu entorpecimento e desatou a aguilhoar sem dó nem piedade. Minou o sorriso, enublou o olhar, entorpeceu o sentir. O passado, em escassos segundos, volta ao presente. Raios! Não te quero, passado! Quero o presente que é o mais maravilhoso presente que, só alguém com muito amor me poderia dar! Vai-te dor passada, vai-te! Sinto-te tão presente, às vezes… escassas as vezes, mas ainda voltas de quando em vez.
Vem primavera, vem serena, faz florescer a virtude de um olhar que se fixa no presente, de uma alma limpa do frio inverno, que voa em busca da realização dos seus sonhos.
E, rapidamente, adormecerei, no Teu regaço. Abraçada à mais doce primavera que alguma vez almejei.

"O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar."
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 19 de abril de 2012

minh'alma



(Foto de Serenidade)






Sinto-me presa a este assento. Não consigo discernir o que se passa, nem mexendo e remexendo no baú das minhas memórias. Sinto-me estática, movendo, qual autómato, na vida que se dá a viver. Sinto-me presa ao automatismo robótico do dia-a-dia e… não tenho ido ao teu encontro mas… também não sinto vontade de me deslocar até ti. Sinto minh’alma presa neste cárcere e já não a conheço! Não consigo identificar o que quer, o que a faz feliz. Anda envolvida num fumo de lamentações com fundamento, mas sem um alicerce que me possa impelir à prosperidade.
Sinto-me presa! Não, não me sinto presa! Sinto-me envolvida em neblina. Uma neblina clara e opaca, que me impele a caminhar nos percursos que quero caminhar, no entanto, com a sensação constante de queda no abismo. Onde andas minh’alma? Diz-me o motivo da tua ausência! Manifesta-te para que eu percorra este caminho luzidio sem a opacidade que agora vislumbro. Arremessa a corda para que vá até ti. Busca-me neste labirinto de lamentações que o meu coração anda envolvido. Impulsiona-me a fazer o que tem de ser feito para que a tua presença se manifeste acerrimamente e não descure mais de te cuidar.
Vem, manifesta-te, para que eu deixe de ser esta marioneta que agora se apresenta, que me desgasta. Sei que me amas, como eu te amo, vem.




terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Pedaços de chão

(Foto de Serenidade)



Percorro cada pedaço de chão na procura do teu abraço. Fico feliz por sentir que posso contar contigo, na alegria e na tristeza. Sei que independentemente do meu estado permaneces ao meu lado de forma imparcial. Não preciso de te fazer rir ou de te dar o que gostarias de receber para me aceitares ao teu lado e me acarinhares de igual modo. Há dias, como hoje, que a dor aflora sem saber de onde, muito menos o motivo! Ou, se o motivo sei, não o deveria sentir! Sei-o! Sinto esta ambivalência em mim e sei que me achas tola… Mesmo assim sei que me amparas nos teus braços como se de uma ave sem ninho se tratasse. E, efectivamente, é assim que me sinto, às vezes! Uma ave que não sabe para onde voar, sem ninho para ser recebida calorosamente, sem um pedaço de chão onde poisar, sem um porto de abrigo consistente. Há uma Fénix aprisionada que não sabe como se soltar! Tu sabes que sou uma bonita ave, forte, perspicaz e astuta de uma beleza rara aos olhos de muitos, mas não tão rara assim para os que conseguem ver para além do que a maior parte do comum mortal consegue percepcionar. O que precisará a Fénix para se soltar? Para exteriorizar a sua extraordinária beleza e, com isso, voar livremente nos caminhos que a levam ao paraíso. Enquanto não há Fénix existes tu, que me acolhes em teu regaço sem julgamento. Não apontas o dedo para as minhas ânsias, nem minhas angústias, percebes que tudo é o que é! O que sinto nada é mais que a minha realidade, percepcionada pelo que sou, pela ilusão do que sou e do que sinto! Porque o que sinto é ilusão e sei-o, como sei que é isso que me dizes sempre que me aconchegas perante a minha ausência de fôlego, quando banhada na água salgada que salta da fonte sem que eu tenha dado permissão! Na procura do teu abraço, cada pedaço de chão que piso, está escorregadio e, deparo-me de frente com a queda no abismo ilusório da solidão, rejeição, desorientação e desamor! Careço do meu/teu abraço, da tua mão, para que as veredas passem a ser luminosas e os trilhos mais fáceis de trilhar e dessa forma construir um ninho sólido e luminoso onde seja bom estar e permanecer.




"Quando alguém encontra o caminho, não pode ter medo. Precisa de ter coragem suficiente para dar passos errados. As decepções, as derrotas, o desânimo, são ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada."


in Brida de Paulo Coelho

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

a tua melodia

(Foto de Serenidade)





O teu som contagioso e ritmado é melodia que me deixa embriagada de serenidade, no entanto, há outras que te substituem e me acariciam a alma. Tem aportado no meu ouvido, como um pássaro em seu ninho, uma vibração sonora recebida no meu coração como uma belíssima aurora. Tem cores azuladas e rosadas, como se de um arco-íris se tratasse. Faz vibrar o coração, como no princípio de uma paixão. Lembraste do dia em que, sem te ver, senti-te em mim? Fizeste explodir uma onde de uma energia tão forte como se o meu corpo fosse um bonito balão festivo a rebentar de tanta alegria. Recordas-te dos momentos em que, ao teu lado, passeie de mão dada com o amor, com um sorriso de paixão. Tal como a tua melodia serena ou agreste, de ritmo sereno ou em compassado apressado, a que te falo, que tem feito companhia, em todos os momentos incluindo os de tola agonia, permite-me viajar até ao mais ínfimo pormenor do meu sentir. Dissecar a dor e a alegria e retirar de ambas o que tem mais valor. Deixa a descoberto o que está entranhado nas profundezas de mim, e que há algum tempo não deixo sair. O que não tem visto a luz do dia, seja uma dor temida ou a alegria de me sentir viva. Este som contagioso deixa-me logo em alvoroço. Desde o batimento ritmado do teu coração à melodia embriagante que entra em mim e me faz vibrar de emoção.






"A beleza pode abrir portas, mas somente a virtude entra."

Provérbio Inglês

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Luz



(Foto de Serenidade)






Há uma luz que me guia até ti. O luar, nos meus sonhos, é o conselheiro do percurso pelo qual poderei direccionar os meus olhos e a minha vontade me leve até ao teu lado. Sou guiada, qual autómato, pelo fio de luz prateado que me acalenta a pele no frio da noite. Encantada pela penumbra do reflexo do teu olhar (no meu) dou por mim desejando entrar nos teus lençóis e banhar-me no teu leito pedindo-te, encarecidamente, que me libertes das amarras que me enclausuram e me diminuem. Por vezes, este prateado lançado na tela do meu olhar, é ilusório! Precisa de ser caiado de doirado. Montar num cavalo alado e deslizar até ti, verificando a veracidade da tua existência. Aí! Onde delicias todos com a tua palete colorida e com o teu sorriso de moço arisco!
Há uma palavra, que me impele a pedir que te aproximes, que venhas até mim. Uma carícia pede para ser manifestada. Uma luz a querer manifestar-se. O amor que nos une. A ternura que necessita ser manifestada. O desejo de, ao teu lado, ser amada.
Só tu, poderás abrir a cortina do meu olhar, limpar os cantos preenchidos de alguma mágoa e abraçar-me livre do que foi e do que poderá vir!
Que a luz que soltas transcenda a distância que nos separa!






"Tudo o que sabemos do amor, é que o amor é tudo que existe."



Emily Dickinson

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Procura



(Foto de Serenidade)






Não tão distante no tempo quanto outrora, percorri o espaço físico que me separa de ti. Óbvio que se trata apenas de matéria, tendo em conta a tua permanência neste cárcere humilde, sereno, em busca, sempre em busca. Desde que me conheço como gente, capaz de tomar as suas decisões de forma consciente ou não, ando à procura! Sim, existiram intervalos de tempo, em que as deliberações eram tomadas sem qualquer consciência do que fazia e logo de seguida, caia no abismo das emoções onde o fundo não existia e a ausência de luz permanecia durante um tempo que parecia infindável!
Desta vez, consciente da minha vontade, sem vontade de estagnar, permaneci ao teu lado, os metros que nos separavam não se faziam sentir dada a fusão que pela curta distância ocorria entre nós! Não precisei tocar-te para sentir-te em mim! Tão pouco ousaste tocar o mais ínfimo pedaço de meu corpo. Estivemos em silêncio e no silêncio olhamo-nos, como naquele dia em que não precisei de saber que ali estavas para sentir um orgasmo de energia. Uma energia sem precedentes fundiu-se com a minha, foi nesse dia que me fizeste sentir tua, que te pertenço e que somos um. O Sol a terminar o seu dia de labuta, por estes lados, percorria parte do espaço, ao alcance do meu olhar, que o levava para outras paragens! O rosado misturava-se com o laranja e o teu azul! Ah o teu azul! O teu azul olhar mesclava-se com um esverdeado reluzente. Estive ao teu lado, estive em ti e na distância continuo a recordar a nossa afinidade, a nossa fusão tão particular que me acompanha na procura dessa força, no meu dia-a-dia. A contínua procura…



"O amor é a força mais subtil do mundo."

Mahatma Gandhi